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Emergências do Grande Rio atendem um baleado a cada quatro horas

O levantamento exclusivo, feito pela GloboNews, aponta que a média do semestre foi de 6 baleados atendidos nas emergências dos hospitais da cidade do Rio e Região Metropolitana por dia.


Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio.

Fonte: O Globo


Em média, a cada quatro horas, uma pessoa baleada é atendida nas emergências de hospitais públicos da cidade do Rio de Janeiro e Região Metropolitana, segundo um levantamento exclusivo feito pela GloboNews.


Só no primeiro semestre deste ano, 1.141 pacientes foram socorridos com ferimentos por arma de fogo em 16 unidades de saúde da Prefeitura, do Estado e do Governo Federal, uma média de 6 por dia.


O recordista de atendimentos entre janeiro e junho é o Hospital Albert Schweitzer, na Zona Oeste do Rio, território atualmente disputado por milicianos. A média da unidade é de um registro por dia.


Do total de feridos, 606 pacientes foram atendidos na rede municipal da capital (8 unidades), 515 na rede estadual (5 unidades) e 20 na rede federal (3 unidades).


Já em 2022, o Hospital Estadual Getúlio Vargas, que fica na Penha, Zona Norte do Rio, foi a unidade que mais recebeu pacientes baleados. Foram 470 pessoas, o que dá uma média de um paciente por dia.


Neste ano, a cada 3 baleados socorridos pelos médicos do Getúlio Vargas, um não resistiu aos ferimentos e morreu. Ao todo, foram 177 vítimas atendidas no primeiro semestre, sendo que 58 morreram.


De 2021 até o fim do primeiro semestre de 2023, 6.887 baleados foram atendidos na capital e Região Metropolitana.


“São pacientes mais graves, o custo é maior, porque a utilização de recursos é maior. Você usa mais os exames de imagem, você usa mais o sangue, você ocupa mais o leito de terapia intensiva, isso tudo aumenta o custo”, explicou o cirurgião Rodrigo Gavina, que trabalhou durante 12 anos na emergência do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio.

Na década de 1990, o cirurgião relata que percebeu a mudança no perfil dos pacientes, uma vez que, naquela época, o ferimento provocado por um tiro de fuzil era novidade.


“Como são armas de guerra, eram lesões de guerra. E quando a gente tratava, a gente percebia que havia uma questão ligada a infecção muito mais grave”, contou Rodrigo.


A medida em que a guerra entre o tráfico e a milícia aumenta, o tempo passa e as armas de guerra se multiplicam, fazendo com que a saúde pública sinta cada vez mais os impactos da violência.


“Nós temos uma grande incidência de pacientes vítimas de armas de fogo. Na nossa unidade, esse número comporta cerca de 30 pacientes por mês, em média”, relatou a diretora do Hospital Salgado Filho, no Méier, a médica Cláudia Barata.


Cláudia explica que, o paciente que tem a classificação de risco ‘vermelha’, tem prioridade e que a complexidade dos casos tem aumentado muito, principalmente porque geralmente os pacientes chegam feridos devido à projéteis de fuzil, que causam lesões em várias estruturas do corpo.


“Sempre que a gente tem entrada de um paciente desse, a gente tem que atrasar o atendimento dos outros pacientes que seriam vítimas de outras lesões menos agressivas. Você tem a ortopedia entrando junto com a cirurgia geral e muitas vezes com a neurocirurgia”, disse a médica.

O levantamento leva em consideração os dados de atendimentos de vítimas de perfuração por arma de fogo (PAF) nas emergências dos hospitais municipais Lourenço Jorge (Barra da Tijuca), Miguel Couto (Leblon), Albert Schweitzer (Realengo), Souza Aguiar (Centro), Evandro Freire (Ilha do Governador), Salgado Filho (Méier), Pedro II (Santa Cruz) e Rocha Faria (Campo Grande); dos hospitais estaduais Getúlio Vargas (Penha Circular), Carlos Chagas (Marechal Hermes), Azevedo Lima (Niterói), Alberto Torres (São Gonçalo), Ricardo Cruz (Duque de Caxias), e os hospitais federais do Andaraí, de Bonsucesso e Cardoso Fontes (Jacarepaguá).


“A população do Rio de Janeiro não aguenta mais viver sob fogo cruzado. Esses números são escandalosos, e demonstram o quanto a arma de fogo e a banalização da sua utilização podem gerar danos severos aos direitos da população”, comentou o ouvidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel.

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